("Carta de Amor" - Maria Bethania)
Era pra ser o fim. Teria que ser o fim. Tinha tudo pra ser o
fim. Só que, não sei se infelizmente, ainda restaram algumas arestas. Talvez
seja assim mesmo, as coisas não acontecem no ritmo que queremos ou que
desejamos. Elas apenas acontecem.
Não sinto raiva, não sinto ódio. Sinto uma tristeza e um
pouco de chateação. Não cheguei a perder o sono, como a princípio pensei que
perderia. Tampouco cheguei a ficar remoendo palavras na mente. De novo, ter
amigos ajudou. E muito. Um aprendizado importante que carregarei comigo para
sempre.
Palavras ferem, palavras doem. Palavras machucam. Quando
proferidas (seja de forma verbalizada ou até escrita) com raiva, parecem
carregar uma carga negativa. Infelizmente ainda não aprendi a rejeitar tais
cargas, então tomo-as para mim, coloco-as em um cantinho e deixo que lá fiquem
até sumirem. Isso não faz muito bem, eu sei, mas acho que ainda não sei lidar
com essas coisas.
Desde o último ano para cá, cheguei à conclusão que mudei.
Não sou, definitivamente, o mesmo de antes. Aprendi muitas coisas, amadureci,
evoluí. Até estou achando um espaço para as coisas intangíveis, as coisas
espirituais. Algo impensável para mim antes.
Quando te mandam raiva e ódio, não vale a pena mandar de
volta. Me disseram que devemos simplesmente não pegar. Deixar que bata e caia
no chão, tal qual uma bola. Ainda não consigo. Não sei se cheguei a tentar, mas
de qualquer forma não consigo. Quando me mandam a tal bola de raiva, eu a pego
e não a repasso. Mas não a derrubo. Apenas deixo-a ali, encostada.
Palavras ferem, palavras doem. Palavras machucam. Mas apenas
por alguns instantes. Forço-me a ler as palavras, forço-me a tentar ver além da
raiva. Procuro nelas algum significado. Só que não procuro mais desculpas.
Antes procurava desculpas, procurava um modo de desculpar as outras pessoas
pelo que elas me faziam. Agora não mais. Apenas tento ler, entender e, muito
provavelmente, descartar.
Não sinto ódio, não sinto raiva, não sinto nada. Só a boa e
velha tristeza, e uma bela pitada de chateação. Demoro um pouco a digerir as
coisas, demoro um pouco para tentar entender. Leio e releio, rumino, penso e
por muitas vezes até durmo sobre o assunto. Depois, com a cabeça mais clara e
serena (mas com o coração ainda pesado) consigo ver mais claramente.
Prólogo, Epílogo, Interstício. E fim.
“Pois já não vales nada, és página virada, arrancada do meu
folhetim”
PS – fim, mas ainda não o final. Porque tenho certeza de que
ainda verei mais alguns capítulos, algumas esparsas cenas. Nada tão grave ou
dramático, nada que me afete tanto quanto o epílogo. Afinal, já estou mais
“preparado”. E que assim seja.
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