("Don't let the sun go down on me" - George Michael e Elton John)
Quando pequeno sempre quis
aprender a tocar algum instrumento. Sempre tive essa fascinação pela música,
pelos músicos, pela capacidade de tirar doces melodias. No primário tive aulas
de musicalização, aulas onde aprendi a tocar flauta doce. Aprendi a ler partituras
simples, a ver as notas musicais, os tons e sobretons. Talvez tenha vindo daí
uma certa facilidade musical. Praticamente qualquer música que eu consiga
assoviar eu consigo tocar em minha gaita.
Eu toco gaita. Ou harmônica, seja
lá como chamem. Fiquei fascinado por esse instrumento quando vi o filme
“Crossroads”. Comprei uma gaita, uma bem vagabunda mesmo, e comecei a assoprar.
De lá para cá alguns anos se passaram, mas minha técnica não melhorou em nada.
Sinto que minha música é burocrática, é apenas correta. Todo as notas em
sequência, na ordem certa, mas sem conseguir dar emoção. Nas poucas vezes em
que consegui algo, digamos, palatável, foi quando estava bem triste. Olhos
fechados, deixei minha mente divagar e deixei as notas fluírem.
Gosto de escrever. Quando
escrevo, meus dedos deslizam pelo teclado como um pianista desliza pelas
teclas. Uma a uma as letras rodopiam e formam palavras. E estas, giram, rodam e
se unem em frases. Tudo num ritmo, tudo com um ritmo. Como um compositor
musical, minhas frases se acomodam na tela branca. Prosa e verso, poesia. Ao
contrário do que dizia o poeta, sou 90% inspiração e 10% transpiração. Até as
rimas saem com facilidade, encaixando-se umas nas outras numa rítmica e
melodiosa dança.
Muitas das vezes entro quase que
num frenesi! Dedos ágeis em seu harmonioso tec-tec-tec, tec-tec-teloco-tec. Um
após o outro, por vezes dois ou três de uma só vez. Antes eu escrevia ouvindo
música. Na maioria das vezes, música clássica. Hoje não, hoje preciso de
silencio absoluto. A música acaba me distraindo, acaba alterando o meu ritmo e,
por conseguinte, meu texto.
Meu texto sou eu. Sou eu escrito
nestas linhas. Sou eu descrito nestas frases. Sou eu exposto nestas orações.
Sou eu, nu e cru. Nunca edito, jamais ajeito. Apenas corrijo eventuais erros de
grafia. E, confesso, ultimamente nem ando relendo. Apenas escrevo, e enquanto
escrevo penso em uma melodia para acompanhar. E quando termino, apenas fecho os
olhos e procuro a primeira imagem que me atrai.
Palavras, música e imagem. Três
partes em uma. E uma que diz bem mais do que as partes separadas. Um
instantâneo de mim, por mim mesmo. Sem, como já disse antes, que o
“editor-cérebro” interfira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário