quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Três em um

http://www.youtube.com/watch?v=ggP08uNJUG4
("Don't let the sun go down on me" - George Michael e Elton John)




Quando pequeno sempre quis aprender a tocar algum instrumento. Sempre tive essa fascinação pela música, pelos músicos, pela capacidade de tirar doces melodias. No primário tive aulas de musicalização, aulas onde aprendi a tocar flauta doce. Aprendi a ler partituras simples, a ver as notas musicais, os tons e sobretons. Talvez tenha vindo daí uma certa facilidade musical. Praticamente qualquer música que eu consiga assoviar eu consigo tocar em minha gaita.


Eu toco gaita. Ou harmônica, seja lá como chamem. Fiquei fascinado por esse instrumento quando vi o filme “Crossroads”. Comprei uma gaita, uma bem vagabunda mesmo, e comecei a assoprar. De lá para cá alguns anos se passaram, mas minha técnica não melhorou em nada. Sinto que minha música é burocrática, é apenas correta. Todo as notas em sequência, na ordem certa, mas sem conseguir dar emoção. Nas poucas vezes em que consegui algo, digamos, palatável, foi quando estava bem triste. Olhos fechados, deixei minha mente divagar e deixei as notas fluírem.

Gosto de escrever. Quando escrevo, meus dedos deslizam pelo teclado como um pianista desliza pelas teclas. Uma a uma as letras rodopiam e formam palavras. E estas, giram, rodam e se unem em frases. Tudo num ritmo, tudo com um ritmo. Como um compositor musical, minhas frases se acomodam na tela branca. Prosa e verso, poesia. Ao contrário do que dizia o poeta, sou 90% inspiração e 10% transpiração. Até as rimas saem com facilidade, encaixando-se umas nas outras numa rítmica e melodiosa dança.

Muitas das vezes entro quase que num frenesi! Dedos ágeis em seu harmonioso tec-tec-tec, tec-tec-teloco-tec. Um após o outro, por vezes dois ou três de uma só vez. Antes eu escrevia ouvindo música. Na maioria das vezes, música clássica. Hoje não, hoje preciso de silencio absoluto. A música acaba me distraindo, acaba alterando o meu ritmo e, por conseguinte, meu texto.

Meu texto sou eu. Sou eu escrito nestas linhas. Sou eu descrito nestas frases. Sou eu exposto nestas orações. Sou eu, nu e cru. Nunca edito, jamais ajeito. Apenas corrijo eventuais erros de grafia. E, confesso, ultimamente nem ando relendo. Apenas escrevo, e enquanto escrevo penso em uma melodia para acompanhar. E quando termino, apenas fecho os olhos e procuro a primeira imagem que me atrai.

Palavras, música e imagem. Três partes em uma. E uma que diz bem mais do que as partes separadas. Um instantâneo de mim, por mim mesmo. Sem, como já disse antes, que o “editor-cérebro” interfira.

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