As fantásticas e modorrentas aventuras de um cara nada mais
que o normal
E agora? Tenho vontade de
escrever algo, de escrever sobre coisas, mas as ideias me fogem. Já comecei a
escrever dois textos, larguei-os à própria sorte (o que não é bem justo, afinal
EU sou a sorte deles). Queria escrever algo no estilo narrativa, algo que
tivesse uma história de fundo. Contar causos, contar estórias baseadas em
histórias. Algumas em minhas, outras em não minhas, e poucas em minhas
alucinações.
Para isso, tenho que primeiro
pensar em um personagem. Alguém, uma pessoa, um protagonista. Será alguém com
rosto? Ou algum genérico? Com certeza alguém do sexo masculino. Com alguma
certeza um pouco baseado em mim. Afinal, já me disseram que todos os escritos
são um pouco autobiográficos.
Um belo dia descobriu que a
aparência, a beleza física, infelizmente influenciava muito em suas decisões.
Mexia com o seu jeito de olhar, com o seu modo de observar, com a maneira com
que interagia com a outra. A beleza o atraía, mais do que gostaria de admitir.
Um bonito rosto. Um bonito corpo.
Um bonito par de olhos. Um bonito par de pernas. Sim, isso de certa forma o
atraía. Não que sua cabeça virasse, que seu pescoço entortasse ao passar de. Só
não era assim tão imune, tão indiferente. Não tanto quanto gostaria e pensava
ser.
Cabelos claros, olhos
azuis/verdes, pele de porcelana. Seria isso? Não, com certeza não. Tatuagens,
roupas underground, piercing. Um look despojado, um jeito diferente, um quê
alternativo. Esses eram os “atributos” que lhe prendiam a atenção. E isso
contrastava com o seu jeito quadrado de se vestir, de se portar, de se sorrir.
Óculos fundo de garrafa, com aros grossos para suportar as lentes. Camisa
social sempre dentro da calça, fosse ela também social ou simples jeans.
Cabelos milimetricamente repartidos, meio de lado, claro que com gel.
Andando de mãos dadas pela rua
com uma amiga notava (não sem achar alguma graça) o olhar arregalado das
pessoas à sua volta. Afinal, nada mais diametralmente oposto que ele, todo de
social após sair do trabalho, e ela, de rasteirinhas, saia longa estampada,
blusa de alcinha e tatoos e piercing
pelo corpo. Eram tão contrastantes quanto os cabelos. Os dele, cuidadosamente
arrumados. Os dela, displicentemente repicados (e pintados). Os opostos se
distraem...
Assim seguia sua vidinha. Sua
viada vidinha. Um dia após o outro, uma “estranha” amiga após a outra. Na
realidade, divertia-se com os preconceitos que acabava entrevendo nas outras
pessoas. Se soubessem da missa a metade... e agradava-lhe ser daquele jeito,
viver daquele jeito. Uma vida praticamente dupla, afinal dificilmente alguma
das pessoas com que lidava durante o dia sequer imaginava como eram preenchidas
suas noites. Como e com quem. Isso lhe agradava, lhe dava uma sensação de
poder, de mistério, de (talvez) relativa superioridade.
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