quinta-feira, 3 de novembro de 2011

... dita

(Mais uma da série "reaproveitando, ou seja, preguiça de escrever")


http://www.youtube.com/watch?v=9jnBBdg2Y6k
(A porta - Arca de Noé)



Eis que eu chego diante da porta. Bato, não bato, toco a campainha? Me lembro da música do disco da arca de Noé. Lindo poema do Vinícius de Moraes musicado. Toquei essa música junto com muitos outros meninos quando estudava em Sampa. “A Porta”. Até hoje lembro da letra, mesmo tendo passado todos esses anos. Ou seriam décadas?


Mas estou divagando. Só pra variar um pouco deixei minha mente sair do aqui e procurar abrigo no quando era feliz. Aquele quando em que eu não tinha muitas preocupações, aquele quando em que a minha maior dúvida era o que comer no recreio. Ou como fazer pra minha mãe não descobrir que eu não tinha feito a lição de casa. E que a Dona Ana Francisca tinha me dado uma advertência.

Voltemos à porta. Maldita porta. Maldito pedaço de madeira, polido e envernizado e finamente trabalhado, entalhado com precisão cirúrgica. Cirurgia que me faz lembrar da minha, aquela em que quase tudo o que podia dar errado de certa forma deu. E eu acabei desenganado pelos médicos, preso a uma cama por alguns anos. Ou seriam meses? Ou apenas dias? Maldito tempo, nunca passa com a mesma velocidade, nunca facilita a minha contagem. Maldito. Maldita. Sim, já estava me esquecendo. Maldita porta.

Bendita porta. Me proporciona preciosos minutos (ou seriam horas? Divago outra vez?) antes de enfrentar o que vim encarar. Não fosse por ela, a porta, eu já estaria lá dentro. E... e? E nada. Não sei, não tenho como saber, não comprei pilha pra minha bola de cristal. Bendita porta que me deu a chance de uma última respirada antes de encontrá-la. Bendita hora em que enganei o porteiro e não o deixei interfonar para avisar da minha chegada.

E cá estou eu de novo. Eu e a porta. Se eu fosse místico talvez visse algo no fato de estar parado diante de uma porta fechada. Fechada sim, mas não trancada. Por que sei que ela nunca fica trancada. Tem trocentos ferrolhos, trocentos trincos e trancas, mas está sempre destrancada. Basta um leve empurrãozinho e pronto, já se escancara, já se arreganha. Arreganha como pernas ou como dentes? Dúvida cruel...

"Bem vindo" me diz o carpete em frente à porta. Sim, bem vindo. E a porta ainda fechada, e o carpete me convidando a entrar. E eu com vontade de ir. Ir embora.

Maldita vontade de ir embora, de virar as costas e sumir...

(Mas eis que a porta se abre...)

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