segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

"O Demônio do Meio-dia"

http://www.youtube.com/watch?v=S-sfk4OEOMc
("Deixa o Sol entrar" - Nenhum de Nós)






          “A depressão é a imperfeição no amor. Para podermos amar, temos que ser criaturas capazes de se desesperar ante as perdas, e a depressão é o mecanismo desse desespero. Quando ela chega, degrada o eu da pessoa e finalmente eclipsa sua capacidade de dar ou receber afeição. É a solidão dentro de nós que se torna manifesta, e destrói não apenas a conexão com outros, mas também a capacidade de estar apaziguadamente apenas consigo mesmo. Embora não seja nenhum profilático contra a depressão, o amor é o que acolchoa a mente e a protege de si mesma. (...) Quando estão bem, alguns amam a si mesmos, alguns amam outros, alguns amam o trabalho e alguns amam Deus: qualquer uma dessas paixões pode fornecer o sentido vital de propósito que é o oposto da depressão. O amor nos abandona de tempos em tempos, e nós abandonamos o amor. Na depressão, a falta de significado de cada empreendimento e de cada emoção, a falta de significado da própria vida se tornam evidentes. O único sentimento que resta nesse estado despido de amor é a insignificância.
          A vida é repleta de tristezas: pouco importa o que fazemos, no final todos vamos morrer; cada um de nós está preso à solidão de um corpo autônomo; o tempo passa, e o que passou nunca voltará. (...) Entretanto (...) a depressão não pode ser varrida enquanto formos criaturas conscientes de nosso próprio eu. Na melhor das hipóteses, ela pode ser contida.

(Andrew Solomon – “O demônio do meio-dia”)



Algumas coisas acontecem pelos mais tortuosos caminhos. Ontem eu fui visitar minha princesinha. Fui logo depois do almoço. Fiquei brincando, pulando, jogando-a pra cima, “voando” com ela até que EU cansei. Ela não, apenas eu. Já não tenho mais (será que algum dia já tive?) fôlego pra tanta atividade física. Olhei no relógio e ainda estava cedo. Nem cinco da tarde. Olhei pela janela e vi o Sol brilhando, a chuva tinha dado uma trégua. Decidi então ir passear. Peguei o carro, minha princesinha e lá fomos nós. Rumo, lógico, ao Shopping. Afinal o que fazer em uma tarde pós chuva, com uma criança de três anos?

Eu estava com vontade de comprar um livro. Fazia muito tempo que não ia a uma livraria com o intuito de comprar algo. Ia apenas para passear. Andava sentindo falta de uma boa leitura, de passar um tempo sentado debaixo de uma árvore desfrutando momentos de êxtase mental. Então, decidido estava. Fomos ao Shopping para comprar livros. Pra mim e para Carol. Antes de ir até a livraria, lógico que passamos no praça de alimentação. Afinal Carol estava “morrendo de fome!”. Nuguets, batatas, suco. Barriga cheia, bexiga vazia (um dia vou sugerir que os shoppings instalem banheiros infantis. Assim os pais (homens) que passeiam com suas filhas podem levá-las ao banheiro sem ter que passar pelo constrangimento de correr WC masculino adentro com uma criança nos braços), e lá fomos nós.

Fomos direto para a seção de infantis. Sentei-me no chão e começamos a ver os livros. Livros coloridos, livros pop-up, livros que cantam, livros que falam, livros que desenham. Todos os tipos, todas as cores e sabores, possíveis e imagináveis. Pega daqui, escolhe dali, fuça acolá. E os olhos enfim brilharam. Um pequeno livro de historinhas, basicamente da história da Cinderela. Mas, com um pequeno detalhe: com adesivos no final pra colar no livro. Carol adora adesivos. Então, escolha feita. Agora, um para o pai.

Ah... minha princesinha é tão carinhosa! A cada corredor, a cada seção diferente ela pegava um livro da prateleira e me trazia. “Esse é bom pai?”, “Olha aqui, esse é legal.”. Alguns até interessantes, mas nenhum que me agradasse. Não vou negar que essa brincadeira de escolher livros estava bem divertida. Passamos um bom tempo olhando livros juntos e fazendo bagunça nas prateleiras. Por fim resolvi apelar para os clássicos mesmo. Não ando muito com vontade de pensar, então peguei “O apanhador de sonhos” do Stephen King. Leitura boa, diversão garantida.

Chegando perto do caixa, vi alguns livros do John Grisham em promoção. Gosto dele. Já li muitos dos seus livros (muitos deles em inglês mesmo). Mas andava meio enjoado. Enjoado porque, quando lemos muitos livros de um mesmo autor, parece que temos uma overdose. As coisas acabam ficando previsíveis, os livros acabam perdendo a graça. Foi o mesmo que aconteceu depois que li uns quatro livros do Dan Brown seguidos. Enjoei. Só que esses livros estavam em promoção, e por isso resolvi dar uma olhada. Muitos eu já tinha lido, outros nunca tinha me dado vontade de ler. Mas eis que, misturado aos muitos livros do Grisham, encontrei um que me chamou a atenção. Capa branca, grosso (483 páginas), letras sóbrias. Título: “O DEMÔNIO DO MEIO-DIA”. Subtítulo: “Uma anatomia da depressão.”. Abri o livro em uma página aleatória e comecei a ler. Gostei de cara! Olhei o preço. Gostei ainda mais! Metade do preço do livro do King. Como eu estava meio extravagante, acabei pegando outro livro. Um do Grisham, em português mesmo.

Hoje, no horário de almoço, comecei a ler o livro. Esse trecho que transcrevi acima é o primeiro parágrafo dele. Adorei. Nunca tinha ouvido falar nele, nunca tinha sequer lido algo a seu respeito. Encontrei-o da maneira mais improvável possível, perdido entre diversos livros de outro autor. E me encantei. Agora já tenho como preencher minhas longas e solitárias noites de verão. Quando eu terminar, ou conforme eu for lendo e for encontrando partes interessantes, posto mais.




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